Compartilho um dos textos mais incríveis que me contaram (escrevi), pois desperta uma profunda reflexão sobre nossos valores quanto a vida. Um diálogo entre Sartre, um mago que se tornou imortal, e sua pupila, Sophia. Segue abaixo uma pequena parte do livro E-lock:
"A maga Sophia aconchegou-se no peito do amante. Tentava sentir as batidas do coração dele. Lentas e suaves. Percebeu que as delas estavam rápidas e fortes, pois foram intensificadas pelo sexo que acabaram de fazer. O corpo, ainda latente em prazer sexual, encaixava-se carinhosamente no corpo do mestre.
- Seu coração – disse ela.
- O que têm ele, Sophia? – perguntou Sartre.
- Está calmo e tranquilo – disse ela voltando o rosto para o dele inferindo que ele não tinha reais sentimentos por ela.
- Não sei o que você quer inferir com isso – mentiu. – Sozinha você me proporcionou tanto prazer sexual quanto as sacerdotisas do templo de Afrodite. Aquelas três juntas são incríveis.
Não era o que ela queria escutar. “Amo você” – era o que ela esperava. Sophia voltou a repousar a cabeça sobre o peito dele. “Não devo apaixonar-me” – pensou enciumada. Passando as unhas sobre a pele dele, sentiu tristeza. “Com quantas mulheres Sartre já deve ter se deitado? E por quantas ele deve ter se apaixonado? Será que já quis passar a eternidade com apenas uma delas? Passaria a eternidade comigo? – sacudiu a cabeça. – Não devo me apaixonar.”
- Por que do silêncio, Sophia? – Sartre estranhou e acariciando-a os cabelos tentou reconfortá-la.
- Você vai mesmo me tornar imortal, mestre? – perguntou tentando obter alguma segurança quanto aos sentimentos de Sartre por ela.
Ela sentiu o corpo do mago levantar-se o que a obrigou a sair da posição de conforto. Com os olhos, o acompanhou dirigir-se até a janela. “Ele não me ama” – concluiu com o peito sufocado. Da mais alta janela do castelo biblioteca, Sartre observou o rio Montana. A água corria tranquila, seguindo o rumo natural.
- A condição humana é como o rio, Sophia. Desde o dia que nascemos, seguimos rumo ao oceano, desviando dos obstáculos, mudando a cada instante, sem jamais realmente se apegar a nada. Por que desejamos continuar sendo o rio? – Sartre balançou a cabeça em reprovação. Mantendo o corpo nu de costas para a pupila, prosseguiu falando tranquilamente: - Devemos nos tornar também oceano, pois nele todas as águas do mundo encontram-se. – Sartre olhou para o céu observando o fluxo de energia do planeta que se move continuamente. - No momento certo, a água muda de estado e vira nuvem, que volta a ser chuva para novamente ser rio. Assim é a condição da vida neste plano da matéria: constantes ciclos de nascimento e morte chamados de samsara. A real busca está em aprender com cada experiência e quando assim evoluímos, chega o momento em que cessamos o samsara e este pode ser recriado com novas vidas em dimensões e locais que nem mesmo eu sou capaz de imaginar. Eu e meu mestre, Dostoievski, cessamos o samsara nos tornando rio, quando deveríamos ser oceano. Estamos eternamente presos a esta condição humana, Sophia. Apegados a nossa existência aprendemos que não devemos nos apegar a nada que não a nós mesmos. Vi rios secarem, desertos virarem florestas e em nenhum dia envelheci. Nem mesmo sonho a noite, Sophia, pois não me é permitido desligar do meu corpo físico e utilizar apenas meu corpo astral. O desejo da imortalidade – disse tédio, - o ouro dos tolos que descobri da pior maneira ser uma maldição.
Virando-se para a maga, Sartre percebeu a expressão apaixonada de admiração dela. “Como é bela e tola” – ele refletiu com um ríspido olhar enquanto observa-a ajeitar os cabelos cortados rente a fronte. A pele dela ainda não demonstrava marcas de expressão e os seios mantinham a tonicidade da mocidade. A barriga esbelta induziu Sartre a olhar mais abaixo. Os finos e ralos pelos pubianos deixavam transparecer os grandes lábios a onde Sartre satisfazia os desejos e impulsões da luxúria. Recobrando o raciocínio elevando, ele continuou:
- Se viver eternamente neste mundo, que idade gostaria de ter? – perguntou para a pupila.
- Vinte e seis. Talvez – acrescentou ao perceber não ter certeza.
- Pense muito bem antes de tomar esta decisão. Ter a mesma idade para sempre traz amargura a alma. Tudo que poderia acontecer e fazer ao ter trinta e três anos de idade, já ocorreu comigo.
- Mestre, porque você não se torna rei? – perguntou. Ela achava que se estivesse na situação de Sartre, ela se faria rainha.
Sartre balançou negativamente a cabeça, reforçando a imaturidade dela, ação que a deixou entristecida, pois pretendia agradá-lo.
- Gosto de ser um mago e a definição do que somos também se encaixa no que queremos. Não gostaria de ter os encargos de um rei e não necessito mais da aprovação e adoração dos outros para definir quem eu sou. Aqui - disse referindo-se a biblioteca -, tenho tudo que desejei. Um castelo repleto de conhecimento e de eruditos com os quais discuto sobre filosofia. Ensino a magos a arte que domino, lhes proporcionando a chance de evoluírem. Ao mesmo tempo, tenho a liberdade de ir e vir, dando satisfação apenas ao rei por questão de respeito e amizade.
Sartre fez uma pausa e Sophia pôde perceber que ele refletia profundamente. Então, ele relatou:
- A eternidade da forma que a conheço, Sophia, é um contínuo caminhar para a insanidade. A vida permanente em um único estado, incluindo o êxtase, não tem nenhuma das virtudes oferecidas pela mudança. Curiosidade, exploração, experimentação, descoberta, crescimento, aprendizado, compromisso, realização, sem isso, a vidas é insatisfatória seja longa ou curta. Ter os limites testados, superados e até o falhar são o que tornam a vida merecedora de ser vivida.
O mago fez uma nova pausa. A jovem começava a repensar sobre o que viria a ser a imortalidade e era justamente isso que o mestre desejava com o discurso e as interrupções.
- Seriamos Dostoievski e eu deuses ou monstros vivendo na condição humana? Leio textos escritos por mortais, convivo na sociedade deles. Culturalmente dependo dos humanos. Reforço que é loucura viver entre criaturas que possuem uma vida breve. Quais as perspectivas de interação que a imortalidade nos fornece? Sei que me ocorre uma mudança enorme de valores e tenho constantemente que me vigiar para não me tornar indiferente e frio aos fatos banais do cotidiano. A valorização da passagem do tempo é diferente para mim do que é para você, assim como a significância de eventos humanos e da história. Esses fatos passam tão rapidamente na vida de um imortal que muitas vezes perdemos o contato com o mundo em que vivemos.
Pausa. Sartre refletiu em como se expressar:
- Tenho a vida como dramas. Já provoquei guerras e conflitos para ver os homens se destruírem. Divirto-me em iludir os desejos humanos e seduzindo mulheres fiéis e infiéis. Interajo, influencio ou apenas observo o destino de alguns. Essa foi à maneira que encontrei para lidar com o tédio da imortalidade. Samsara – disse com tom de menosprezo pela palavra. De repente falou como se recobrasse a presença da pupila: - Vista-se também, Sophia, estamos indo aos jardins do castelo.
Saindo do aposento, eles deixaram de serem amantes para novamente serem mestre e pupila. Passeando no belo jardim, Sartre ordenou que ela observasse as diferentes espécies de plantas e animais. O mago andava reflexivo, com as mãos nas costas.
- Veja, Sophia – ele a indicou o inseto que voava.
- Uma mosca. O que tem ela?
- Sabia que o ciclo de vida da mosca dura apenas um ciclo lunar? O que pensa a respeito?
- É tão pouco.
- Será, Sophia? A mosca não sofre com isso, pois ela não tem consciência ou mesmo alma como a definimos. Os humanos têm a consciência de que não viverão para sempre e isso torna a vida mais bela ou, ao menos, deveria torná-la. Mas para o ser humano isso é, geralmente, motivo de sofrimento. Queremos que a pessoa particular que somos continue a existir ou os ideais que temos? As obras dos escritores, as mudanças consequentes às ações dos revolucionários, as descobertas dos estudiosos continuam no mundo, tornando-os imortais de uma maneira diferente da minha. As habilidades que desenvolvemos continuam nas pessoas as quais ensinamos. Um admirável papel dos mestres eternizados nos pupilos. Saber que vamos ser relembrados traz certo conforto para a morte. Comece a questionar o modelo de vida eterna que deseja, Sophia. Não quero que responda, mas reflita continuamente o que vou lhe perguntar: fui eu, Sartre, corajoso por viver apenas uma vida ou estava apenas temeroso da morte?
Abaixando para apanhar uma rosa do jardim, Sartre continuou a falar ao tê-la em mãos:
- Fugaz, breve, transitório, passageiro, efêmero, evanescente. Grande parte da beleza de objetos ou fatos está na fugacidade e na unicidade. A beleza da juventude, o sorriso da amante, as primeiras palavras de um bebê. – Sartre fez com que a rosa secasse, perdendo a beleza. - Ser algo valioso pode a ser por instantes. A impermanência dela é parte do que ela é assim como dos valores que possui. A rosa não teria o mesmo encanto se não fosse efêmera. Ao mesmo tempo, a imortalidade não tem mais valor do que algo que existiu um dia. Confuso demais, Sophia?
- Não, mestre – negou. - Penso compreender – relatou um pouco confusa.
- Não espero que entenda tudo agora, mas que inicie novos questionamentos. Não vou me recordar do contexto, mas lembro de algo que li. Era mais ou menos assim: “Vampiros são como o fogo. Consomem e destroem para continuarem com o existir. Os anjos são como o vento notado no singelo movimento das folhas. Sente-se a presença, mas não os vê. Os seres humanos são como a água em eterno ciclo de ressurgimento. Eu seria uma das pedras preciosas da terra. Belas, frias e imutáveis”.
A pupila começou a observar as criaturas naquele jardim de forma diferente. Pensava no que escutara. Após andarem durante um tempo, Sartre a convidou para sentarem em um dos bancos do jardim. Ele recordou:
- Azrael, o anjo da morte, disse para mim e Dostoievski quando nos tornamos imortais: “Os iluminados nunca desejariam a individualidade eterna, pois não é nela que se encontra Deus. Vocês terão tempo suficiente para compreenderem minhas palavras. Ficarei com o coração e a alma de vocês até o dia em que o encontrarem nas outras pessoas”. – Sartre suspirou profundamente e tomou fôlego para assumir: - A imortalidade tem seus charmes, mas também seus pesares. Não a escolheria da forma que a escolhi.
- Seu coração – disse ela.
- O que têm ele, Sophia? – perguntou Sartre.
- Está calmo e tranquilo – disse ela voltando o rosto para o dele inferindo que ele não tinha reais sentimentos por ela.
- Não sei o que você quer inferir com isso – mentiu. – Sozinha você me proporcionou tanto prazer sexual quanto as sacerdotisas do templo de Afrodite. Aquelas três juntas são incríveis.
Não era o que ela queria escutar. “Amo você” – era o que ela esperava. Sophia voltou a repousar a cabeça sobre o peito dele. “Não devo apaixonar-me” – pensou enciumada. Passando as unhas sobre a pele dele, sentiu tristeza. “Com quantas mulheres Sartre já deve ter se deitado? E por quantas ele deve ter se apaixonado? Será que já quis passar a eternidade com apenas uma delas? Passaria a eternidade comigo? – sacudiu a cabeça. – Não devo me apaixonar.”
- Por que do silêncio, Sophia? – Sartre estranhou e acariciando-a os cabelos tentou reconfortá-la.
- Você vai mesmo me tornar imortal, mestre? – perguntou tentando obter alguma segurança quanto aos sentimentos de Sartre por ela.
Ela sentiu o corpo do mago levantar-se o que a obrigou a sair da posição de conforto. Com os olhos, o acompanhou dirigir-se até a janela. “Ele não me ama” – concluiu com o peito sufocado. Da mais alta janela do castelo biblioteca, Sartre observou o rio Montana. A água corria tranquila, seguindo o rumo natural.
- A condição humana é como o rio, Sophia. Desde o dia que nascemos, seguimos rumo ao oceano, desviando dos obstáculos, mudando a cada instante, sem jamais realmente se apegar a nada. Por que desejamos continuar sendo o rio? – Sartre balançou a cabeça em reprovação. Mantendo o corpo nu de costas para a pupila, prosseguiu falando tranquilamente: - Devemos nos tornar também oceano, pois nele todas as águas do mundo encontram-se. – Sartre olhou para o céu observando o fluxo de energia do planeta que se move continuamente. - No momento certo, a água muda de estado e vira nuvem, que volta a ser chuva para novamente ser rio. Assim é a condição da vida neste plano da matéria: constantes ciclos de nascimento e morte chamados de samsara. A real busca está em aprender com cada experiência e quando assim evoluímos, chega o momento em que cessamos o samsara e este pode ser recriado com novas vidas em dimensões e locais que nem mesmo eu sou capaz de imaginar. Eu e meu mestre, Dostoievski, cessamos o samsara nos tornando rio, quando deveríamos ser oceano. Estamos eternamente presos a esta condição humana, Sophia. Apegados a nossa existência aprendemos que não devemos nos apegar a nada que não a nós mesmos. Vi rios secarem, desertos virarem florestas e em nenhum dia envelheci. Nem mesmo sonho a noite, Sophia, pois não me é permitido desligar do meu corpo físico e utilizar apenas meu corpo astral. O desejo da imortalidade – disse tédio, - o ouro dos tolos que descobri da pior maneira ser uma maldição.
Virando-se para a maga, Sartre percebeu a expressão apaixonada de admiração dela. “Como é bela e tola” – ele refletiu com um ríspido olhar enquanto observa-a ajeitar os cabelos cortados rente a fronte. A pele dela ainda não demonstrava marcas de expressão e os seios mantinham a tonicidade da mocidade. A barriga esbelta induziu Sartre a olhar mais abaixo. Os finos e ralos pelos pubianos deixavam transparecer os grandes lábios a onde Sartre satisfazia os desejos e impulsões da luxúria. Recobrando o raciocínio elevando, ele continuou:
- Se viver eternamente neste mundo, que idade gostaria de ter? – perguntou para a pupila.
- Vinte e seis. Talvez – acrescentou ao perceber não ter certeza.
- Pense muito bem antes de tomar esta decisão. Ter a mesma idade para sempre traz amargura a alma. Tudo que poderia acontecer e fazer ao ter trinta e três anos de idade, já ocorreu comigo.
- Mestre, porque você não se torna rei? – perguntou. Ela achava que se estivesse na situação de Sartre, ela se faria rainha.
Sartre balançou negativamente a cabeça, reforçando a imaturidade dela, ação que a deixou entristecida, pois pretendia agradá-lo.
- Gosto de ser um mago e a definição do que somos também se encaixa no que queremos. Não gostaria de ter os encargos de um rei e não necessito mais da aprovação e adoração dos outros para definir quem eu sou. Aqui - disse referindo-se a biblioteca -, tenho tudo que desejei. Um castelo repleto de conhecimento e de eruditos com os quais discuto sobre filosofia. Ensino a magos a arte que domino, lhes proporcionando a chance de evoluírem. Ao mesmo tempo, tenho a liberdade de ir e vir, dando satisfação apenas ao rei por questão de respeito e amizade.
Sartre fez uma pausa e Sophia pôde perceber que ele refletia profundamente. Então, ele relatou:
- A eternidade da forma que a conheço, Sophia, é um contínuo caminhar para a insanidade. A vida permanente em um único estado, incluindo o êxtase, não tem nenhuma das virtudes oferecidas pela mudança. Curiosidade, exploração, experimentação, descoberta, crescimento, aprendizado, compromisso, realização, sem isso, a vidas é insatisfatória seja longa ou curta. Ter os limites testados, superados e até o falhar são o que tornam a vida merecedora de ser vivida.
O mago fez uma nova pausa. A jovem começava a repensar sobre o que viria a ser a imortalidade e era justamente isso que o mestre desejava com o discurso e as interrupções.
- Seriamos Dostoievski e eu deuses ou monstros vivendo na condição humana? Leio textos escritos por mortais, convivo na sociedade deles. Culturalmente dependo dos humanos. Reforço que é loucura viver entre criaturas que possuem uma vida breve. Quais as perspectivas de interação que a imortalidade nos fornece? Sei que me ocorre uma mudança enorme de valores e tenho constantemente que me vigiar para não me tornar indiferente e frio aos fatos banais do cotidiano. A valorização da passagem do tempo é diferente para mim do que é para você, assim como a significância de eventos humanos e da história. Esses fatos passam tão rapidamente na vida de um imortal que muitas vezes perdemos o contato com o mundo em que vivemos.
Pausa. Sartre refletiu em como se expressar:
- Tenho a vida como dramas. Já provoquei guerras e conflitos para ver os homens se destruírem. Divirto-me em iludir os desejos humanos e seduzindo mulheres fiéis e infiéis. Interajo, influencio ou apenas observo o destino de alguns. Essa foi à maneira que encontrei para lidar com o tédio da imortalidade. Samsara – disse com tom de menosprezo pela palavra. De repente falou como se recobrasse a presença da pupila: - Vista-se também, Sophia, estamos indo aos jardins do castelo.
Saindo do aposento, eles deixaram de serem amantes para novamente serem mestre e pupila. Passeando no belo jardim, Sartre ordenou que ela observasse as diferentes espécies de plantas e animais. O mago andava reflexivo, com as mãos nas costas.
- Veja, Sophia – ele a indicou o inseto que voava.
- Uma mosca. O que tem ela?
- Sabia que o ciclo de vida da mosca dura apenas um ciclo lunar? O que pensa a respeito?
- É tão pouco.
- Será, Sophia? A mosca não sofre com isso, pois ela não tem consciência ou mesmo alma como a definimos. Os humanos têm a consciência de que não viverão para sempre e isso torna a vida mais bela ou, ao menos, deveria torná-la. Mas para o ser humano isso é, geralmente, motivo de sofrimento. Queremos que a pessoa particular que somos continue a existir ou os ideais que temos? As obras dos escritores, as mudanças consequentes às ações dos revolucionários, as descobertas dos estudiosos continuam no mundo, tornando-os imortais de uma maneira diferente da minha. As habilidades que desenvolvemos continuam nas pessoas as quais ensinamos. Um admirável papel dos mestres eternizados nos pupilos. Saber que vamos ser relembrados traz certo conforto para a morte. Comece a questionar o modelo de vida eterna que deseja, Sophia. Não quero que responda, mas reflita continuamente o que vou lhe perguntar: fui eu, Sartre, corajoso por viver apenas uma vida ou estava apenas temeroso da morte?
Abaixando para apanhar uma rosa do jardim, Sartre continuou a falar ao tê-la em mãos:
- Fugaz, breve, transitório, passageiro, efêmero, evanescente. Grande parte da beleza de objetos ou fatos está na fugacidade e na unicidade. A beleza da juventude, o sorriso da amante, as primeiras palavras de um bebê. – Sartre fez com que a rosa secasse, perdendo a beleza. - Ser algo valioso pode a ser por instantes. A impermanência dela é parte do que ela é assim como dos valores que possui. A rosa não teria o mesmo encanto se não fosse efêmera. Ao mesmo tempo, a imortalidade não tem mais valor do que algo que existiu um dia. Confuso demais, Sophia?
- Não, mestre – negou. - Penso compreender – relatou um pouco confusa.
- Não espero que entenda tudo agora, mas que inicie novos questionamentos. Não vou me recordar do contexto, mas lembro de algo que li. Era mais ou menos assim: “Vampiros são como o fogo. Consomem e destroem para continuarem com o existir. Os anjos são como o vento notado no singelo movimento das folhas. Sente-se a presença, mas não os vê. Os seres humanos são como a água em eterno ciclo de ressurgimento. Eu seria uma das pedras preciosas da terra. Belas, frias e imutáveis”.
A pupila começou a observar as criaturas naquele jardim de forma diferente. Pensava no que escutara. Após andarem durante um tempo, Sartre a convidou para sentarem em um dos bancos do jardim. Ele recordou:
- Azrael, o anjo da morte, disse para mim e Dostoievski quando nos tornamos imortais: “Os iluminados nunca desejariam a individualidade eterna, pois não é nela que se encontra Deus. Vocês terão tempo suficiente para compreenderem minhas palavras. Ficarei com o coração e a alma de vocês até o dia em que o encontrarem nas outras pessoas”. – Sartre suspirou profundamente e tomou fôlego para assumir: - A imortalidade tem seus charmes, mas também seus pesares. Não a escolheria da forma que a escolhi.
Por Lohan - MG
Conforme tiver novidades sobre este trabalho incrível desenvolvido pelo meu Irmão Espiritual, compartilho com vocês!
Namastê!
Julia Nogueira - SP
Julia Nogueira - SP